A criação das CAPs
(Caixas de Aposentadorias e Pensões) em 1923 propunha garantir as classes
trabalhistas assistência médica e após alguns anos de trabalho, aposentadoria
“digna”, o que seria financiado pelas empresas, trabalhadores e União. Seguindo-se
a isto, criou-se o projeto que previa o inicio das obras do centro de saúde, o
qual propunha substituir as políticas emergenciais epidemiológicas por
políticas de saúde educacionais e sanitaristas com um caráter ainda muito
primitivo apesar de ser autoria do Dr. Geraldo Paula Souza que voltará dos
estados unidos onde realizará um Curso de saúde publica. O Brasil ainda não
dispunha de ciência e gestão capacitada para execução do projeto com pleno
sucesso.
Em 1924 revoltas políticas tomam conta do país
espalhando medo à população, a situação é amenizada com a posse do presidente Getúlio
Vargas, que anuncia um decreto no qual uniformiza e centraliza as estruturas de
saúde. Em 1932 o estado de São Paulo se arma contra o então presidente na
tentativa de retirá-lo do poder, alegando o não cumprimento da constituição
prometida em 1930, o que para à critica era uma forma disfarçada de rebelar-se
contra o “pai dos pobres”.
O presidente Vargas anuncia ao país a criação das IAPs
(Institutos de Aposentadorias e Pensões) substituindo as CAPs, iniciando com os
marítimos e estendendo-se a todas as classes trabalhistas; Os IAPs preconizavam
que os trabalhadores pagariam uma pequena porcentagem de seu salário e em troca
teriam plena assistência médica, aposentadorias e pensões após uma longa vida
de trabalho produtivo.
Não muito surpreendente o presidente anuncia
nomear pessoas de sua inteira confiança para presidir os IAPs que movimentaria
muito dinheiro despertando interesses alheios aos reais motivos de sua criação;
seus recursos foram investidos na industrialização do país, bem mais do que na
assistência médica levando rapidamente os IAPs à falência. As ações
presidenciais desapontavam e indignavam a muitos que por volta de 1935 e 1939
lutaram para tentar depor o presidente que decreta estado de sitio, cria o estado
novo e anuncia a criação do Ministério do Trabalho e das Indústrias elogiando
em seu discurso o andamento do sistema previdenciário.
O SESP (Atividade do Serviço Especial de saúde
Publica no Interior do país) financiado pelos Estados Unidos que tinha
interesses na borracha entra no estado do Amazonas para tentar erradicar a malária.
Trata-se de um programa de saúde publica que atua preventivamente com ações
sanitárias e epidemiológicas atuando principalmente onde não existia nenhuma
forma de ação de saúde destacando-se alguns Doutores como Manoel Carlos Chagas;
os irmãos vilas boas que descobriam a cada nova expedição o papel importante
das ações de saúde publica atuando no combate a varias epidemias.
As agitações políticas do país demonstravam a
ineficiência de suas gestões; em 1994, Getúlio Vargas foi deposto assumindo a
presidência o militar General Dutra formando também o partido comunista. Os
avanços da saúde no país eram pautados pela má gestão e pela influencia dos americanos,
que se baseavam em grandes hospitais com médicos de varias especialidades o que
impedia que o indivíduo fosse analisado como um todo, mas sim por partes.
Foram construídos grandes hospitais pelo setor
privado com recursos da saúde publica, o governo financiava estas construções
em troca dos convênios no qual estes deveriam oferecer atendimento aos trabalhadores
e seus familiares, mas o que aconteceu foi obras faraônicas, convênios rompidos
e recursos públicos desperdiçados, característica que se segue até os dias
atuais.
As eleições
de 1950 garantem a Getúlio Vargas o retorno ao governo pelo voto popular, o mesmo
cria o Ministério da Saúde prometendo aumentar e organizar as ações de saúde
preventiva, executando separadamente os programas de prevenção e tratamento bem
como aquisição dos medicamentos, no qual alguns doutores e pesquisadores das
diversas áreas de saúde uniram-se na proposta de municipalizar as ações de saúde
tentando levar atendimento gratuito a todos; O que ainda não era possível, mas
já se davam os primeiros passos.
No governo Juscelino Kubistchek
houve o crescimento da industrialização bem como o numero de associados aos
IAPs, surge então à proposta de unificação dos sistemas previdenciários que não
é aceita pelas classes dominantes, pois a mesma entendia que havia uma grande
diferença nas condições econômicas de cada setor. Este descontentamento se
agrava com a construção de hospitais pelos próprios IAPs, deixando empresas
insatisfeitas com o atendimento medico. Uma solução para esse problema seria o
uso da medicina de grupo, a qual consiste em empresas privadas fornecendo
serviços médicos para os trabalhadores de sua contratante. Isso garantiria
um maior contentamento de seus associados bem como redução no índice de faltas de
seus trabalhadores por motivos de saúde o que geraria uma maior rentabilidade
as empresas;
As constantes mudanças de governo atenuavam as
diferenças sociais bem como atrasava o desenvolvimento das políticas de saúde
publica do país, com a posse de João Goulart inicia-se um processo de arrocho
salarial e de constantes repressões ao povo, e principalmente aos que ousavam
criticar o governo, mas surgem pequenos movimentos que elucidam a população
quanto à situação de miséria e calamidade que se instalava na nação. O êxodo
rural crescia atenuando a pobreza nas cidades atuando como um fator agravante a
proliferação das endemias, crescendo também os índices de mortalidade infantil,
as pessoas tornavam-se cada vez mais pobres e sujeitas a condições precárias de
vida. O governo estava sucateando a saúde deixando de manter serviços básicos de
saneamento e assistência priorizando a iniciativa privada, pois esta teria como
devolver recursos aos cofres públicos.
Ocorre então a unificação dos IAPs e outros órgãos
em Instituto Nacional de Previdência Social, (INPS) que reuniria os recursos de
todas as classes trabalhistas gerindo as aposentadorias, pensões e assistência
médica, gerando uma arrecadação absurda. O governo Federal anuncia a extensão
da previdência aos trabalhadores rurais e a construção de novos hospitais
geridos pela iniciativa privada o que elucida a sequência histórica de mau uso
dos recursos públicos, fraudes, superfaturamento de obras e má administração
dos serviços, por outro lado nunca havia se prestado tantos serviços de saúde
bem como liberação de pensões e aposentadorias em toda a historia da nação.
Apesar da
repressão grupos de mulheres reuniam-se em suas comunidades para discutir formas
de reivindicação pela saúde publica, pois o dinheiro só iria onde havia
retornos, a censura proibia que as notícias sobre as condições de saúde e as
epidemias fossem divulgadas distorcendo as informações sobre os fatos, contudo os
movimentos de saúde foram ganhando força e conquistaram centros de saúde, também
elegendo conselheiros de saúde pra continuar suas reivindicações centradas nas
ações básicas de saúde bem como alternativas a assistência hospitalar.
O movimento popular de saúde participa da 8º
Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, sua abertura a população organizada
é uma vitória dos grupos populares, estavam presentes trabalhadores de saúde,
movimentos sociais e gestores, os quais lutavam por um Sistema Único de Saúde
(SUS) publico e de qualidade para todos, controlado pela sociedade e pelos conselhos
de saúde, tendo como princípios a Universalidade, a Integralidade, a Equidade e
a Participação Social. Com o SUS a saúde surgiu como direito e não mais como
favor, privilégio ou caridade, é universal para todos, ricos e pobres, com
equidade enfrentando as desigualdades sociais, construindo a justiça social e
com participação no debate das politicas e no controle publico das ações e dos
serviços nos conselhos e nas conferências.
A marca mais importante para a criação do SUS foi à
participação social, cada cidade pode contar com um conselho de saúde formado
por usuários representando metade dos membros, a outra metade se divide
igualmente entre os trabalhadores de saúde e os gestores de governos,
instituições privadas e sem fins lucrativos. Eles fiscalizam, debatem e
controlam as politicas de saúde e todos os recursos investidos.
Em 1990 conseguiram aprovar a regularização do SUS
com as leis 8080 e 8142, sem melhorias na saúde o Ministério da Saúde lança o Programa
Saúde da Família, o qual presta assistência domiciliar à população. Logo após, o
publico brasileiro foi apresentado à rede mundial de computadores. A Embratel
lança seu serviço experimental para que se possa conhecer melhor a Internet e tenham
acesso a informações.
Enquanto a crise na presidência se aprofunda,
parecendo não haver solução para o rombo, os planos de saúde estavam com tudo,
mas eles gostavam mesmo era de pessoas saudáveis que não davam despesas, e muito
dos pacientes eram jogados para o SUS, ou seja, eles queriam lucra sem
despesas, e ainda exigiam autorização do governo para aumentar as mensalidades
de seus associados, argumentando que estavam no vermelho e sem aumentos, com
isso iriam começar a descredenciar hospitais e médicos. O governo estudava a implantação
de uma grande reforma do estado brasileiro com a transferência da gestão de
serviços públicos para entidades privadas, sem fins lucrativos e organizações
sociais, uma de suas principais áreas de atuações foi a saúde, com a proposta
de terceirização do SUS, tornando ainda mais difícil para o setor publico ter
acesso a saúde de qualidade, uma vez que quem podia pagar ou que tinha plano de
saúde seriam atendidos imediatamente.
Com a posse de Lula, o governo anuncia que está mandando
para o congresso o projeto de reforma previdenciária, depois de estar praticamente
falida, a previdência não poderia mais continuar do mesmo jeito, alguma coisa
precisava se feita.
Em 2006, 20 anos depois da 8º conferência, o SUS faz parte do cotidiano da
população sendo a mais importante e avançada politica de saúde no Brasil, sem
duvida nenhuma, pois é uma proposta popular e democrática que aponta para a
justiça social. Foi uma luta muito complicada, principalmente para moradores de
periferias, tendo como resultado a implantação do Sistema Único de Saúde, que é
universal atingindo todas as classes sociais, integral
dando todo tipo de atendimento, desde uma vacina ao transplante, com o controle
publico de todas as ações que ocorrem no sistema. E mesmo com as dificuldades o
SUS atende cerca de um milhão de pessoas por dia, sendo um dos maiores sistema
públicos do mundo. Além de revolucionar a saúde publica brasileira, ele serve
de exemplo para outros países.
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